Hobbies podem aliviar o estresse e melhorar a qualidade de vida em 2025
- Por Vitória Macedo | Folhapress
- 01 Jan 2025
- 14:27h
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
O trabalho muitas vezes acaba sugando as nossas energias. E mesmo cercados por facilidades como a possibilidade de trabalhar ou pedir um delivery do celular, coisas que supostamente nos trariam mais tempo livre, não temos tempo pra nada. Algumas pessoas, no entanto, começaram a reorganizar o dia a dia e mudar essa perspectiva. Para isso usam os hobbies, que ajudam a desestressar e aproveitar melhor a rotina, dizem.
Um hobby é uma atividade sem pressão por performance ou planejamento, algo que promove regeneração. "É algo que a pessoa faz porque gosta, não por obrigação, nem por ser produtivo. É pelo prazer e satisfação pessoal", explica Rodrigo Huguet, psiquiatra da Rede Mater Dei de Saúde.
"Uma vida focada apenas em trabalho leva ao estresse e ansiedade."
Marco Aurélio Maywald, 27, encontrou esse propósito na fotografia. O fascínio surgiu ao visitar uma exposição de fotos em preto e branco no Sesc anos atrás. Embora interessado, ele não tinha condições de comprar uma câmera digital e ficou anos apenas desejando.
Há cerca de cinco meses, encontrou uma câmera analógica acessível em uma feira de antiguidades e começou a fotografar. O processo inclui buscar filme, tirar fotos, esperar o filme acabar, revelar e aguardar dias pelo resultado, sem a certeza de como as fotos ficaram -o que exige atenção e paciência.
Fotografar contrasta com sua rotina como advogado, em que lida com investigações de corrupção e programas de integridade, marcados pela urgência e pelo uso intensivo de telas. "No meu trabalho, tudo é urgente, tudo é pra ontem. Fotografar me permite pausar a realidade naquele instante."
A fotografia despertou em Marco Aurélio o interesse por outras formas de expressão, como pintura e teatro. "Descobri um lado artístico em mim que eu não conhecia."
Engana-se quem pensa que um hobby precisa ser útil. O importante é reservar um tempo para si, sem a obrigação constante de produzir algo. Dá até pra ser medíocre.
A psicóloga Débora Genezini, coordenadora dos ambulatórios da Oncologia D’Or em São Paulo, diz que as atividades feitas por prazer contrastam com valores atuais, em que uma rotina cheia de afazeres virou sinônimo de competência e sucesso. "Todo excesso, seja para mais ou para menos, é insalubre."
Essa percepção pode causar ansiedade, insônia e desequilíbrio. Áurea Amaral, 50, sentiu isso na rotina atribulada do mercado corporativo, onde lidava com pressão por vendas e metas. "É mentalmente exaustivo."
Dois anos atrás, ela teve uma experiência positiva ao fazer uma leitura de tarot e resolveu comprar um baralho para aprender. Hoje, lê as cartas para si mesmo e pessoas próximas. "Para mulher é sempre mais pesado, porque não é só o trabalho, é toda a carga que a gente carrega. A gente precisa usar uma válvula de escape", diz.
Estudos mostram que ter algum hobby é uma forma de equilibrar a saúde mental diante de uma intensa vida profissional. Um artigo publicado no Internacional Journal of Environmental Research and Public Health mostrou que pessoas que trabalham longas horas semanais e têm hobbies tem mais benefícios na saúde mental em relação aquelas que não têm.
Pesquisa publicada na Nature Medicine, que compilou os resultados de cinco estudos que acompanharam cerca de 93 mil pessoas com 65 anos ou mais, mostrou que pessoas daquela faixa etária com hobbies tinham menos sintomas de depressão e maior satisfação com a vida.
José Carlos Guerra, 37, vê na dança uma fonte de energia. Já tinha gosto pela prática e, em agosto, começou aulas de jazzfunk. Ele considera a prática uma maneira de sair da zona de conforto e aprender algo novo. "Eu me reenergizo."
Trabalhando com dados em uma empresa de sistemas de ensino, percebeu que se concentrar apenas no trabalho torna sua qualidade de vida vulnerável. "Quando o trabalho vai bem, você é o super-homem. Quando o trabalho não vai muito bem, você acaba sendo muito derrubado", diz.
Andreza Faria, 29, encontra leveza ao colorir livros após plantões hospitalares. Embora sempre tenha gostado de ter hobbies, eles eram voltados para telas, como videogames. "Mas o hobby fora da tela era uma coisa que tava me faltando", conta.
Em 2023, começou a colorir com lápis e, em agosto desse ano, influenciada pelo TikTok, passou a usar marcadores. "Em geral, eu chego muito cansada. Praticamente todo dia trabalho 12 horas. Então é o momento de relaxar a cabeça, esquecer tudo o que você passa no dia." Ela passou a gravar vídeos colorindo e começou a monetizar com as visualizações que recebe.
Esse tipo de atividade também reconecta as pessoas com a criança interior, diz a psicóloga Genezini. "A vida acelerada e tecnológica nos afasta da nossa essência primária da criança. Reconectar-se com ela é saudável, libertador e necessário."
COMO ENCONTRAR UM HOBBY
1. Não precisa ter habilidade prévia - Busque algo que tire um sorriso do rosto e traga bem-estar. Pode ser um exercício físico, cozinhar, dançar, teatro, circo, pintura ou leitura.
2. Experimente algo fora da sua zona de conforto - Por exemplo, alguém que teve uma experiência ruim ao cozinhar pode tentar novamente, com leveza, seguindo receitas simples ou fazendo um curso. “É gostoso aprender algo novo sem o estresse e julgamento por errar”, diz Huguet.
3. Considere aspectos financeiros e de tempo - Encontre algo que caiba no bolso em termos financeiros e que se encaixe na rotina diária. Se gosta de colorir, não precisa começar com as canetas mais caras do mercado.