Carnaval de Rio de Contas só na memória

  • Por: Paulo Esdras
  • 19 Fev 2015
  • 12:57h

- Alô


- Alô, mãe resolvemos ir ver o carnaval de Rio de Contas com as bandinhas, os mascarados, as fantasias... acho que sua neta vai curtir mais do que o carnaval de Salvador com aquele tumulto de gente, cordas separando a elite do povo, xixi em cada esquina, violência...


- Na minha época era diferente... a magia do carnaval de Salvador não tolerava segregação e também priorizava a cultura em vez do capitalismo dos blocos... depois me conte como foi, tá? Boa festa!


No outro dia...


- Alô, mãe?


- Oi, filha. Como foi em Rio de Contas?


- Horrível mãe. A cidade perdeu a tradição... as bandas de pagode, axé e até de forró pisaram em cima das bandinhas, que nem passam mais na rua. Estão em cima de palcos. A cidade não comporta o número de turistas e foi impossível estacionar. Cheiro de xixi para todo lado, já que os banheiros públicos estavam todos concentrados em um único ponto, atrás do palco. Os poucos mascarados que nós vimos usavam máscaras de borracha hollywoodianas! Nada comparado com aquela magia que o carnaval da cidade tinha em nossa época.


- Que pena, filha... Quem perde é a cultura.


A relação da indústria cultural com a cultura nunca foi justa. A ânsia por lucrar em cima de algo tão nobre acaba por empacotar a nobreza e vende-la em série como um objeto qualquer. E o carnaval de Rio de Contas não foi diferente. O que atraia nele, além do cenário fantástico da cidade, era justamente a pureza dos caretas, a espontaneidade das fantasias e a tradição das fanfarras. Hoje o que se vê são palcos fixos - um deles fechado – com bandas hiperbólicas que deslocam as bandas e os mascarados apenas para uma posição ínfima de figurante, que nem aparecem nos créditos ou nos cartazes. Ou seja, tudo aquilo que fez o carnaval da cidade ser conhecido e apreciado se perdeu com o tempo, com a ganância e com a falta de sensibilidade dos gestores públicos.


* Paulo Esdras: *Paulo Esdras é comunicólogo, escritor, produtor cultural, professor e agente social. Sócio da TPM Produções e Mídia, Coordena o Movimento Cultural ABRACADABRA e é membro da ALAB - Academia de Letras e Artes de Brumado.