Primeiro júri com tradução em Libras do Brasil é assistido por mais de 40 surdos no sul da Bahia
- 30 Ago 2017
- 08:11h
Intérprete de Libras traduz julgamento para deficientes auditivos em Itabuna (Foto: Reprodução/TV Santa CRuz)
Mais de 40 pessoas com deficiência auditiva acompanharam nesta terça-feira (29), em Itabuna, sul da Bahia, o primeiro júri que foi traduzido de forma simultânea em Libras (Língua Brasileira de Sinais) do Brasil. O julgamento foi de Jipleze Atamásio Lima, acusado de matar duas pessoas e tentar matar outra, em uma cela do presídio de Itabuna, em 2012. Ele foi condenado, no júri desta terça, a 32 anos de prisão em regime fechado. Três intérpretes de Libras se revezaram durante todo o julgamento, que durou das 8h30 às 17h, e foi realizado no Fórum Ruy Barbosa. Após o júri, um dos intérpretes traduziu a impressão que uma espectadora surda teve do julgamento. "Cada detalhe, o homicídio, tudo que estava acontecendo ela conseguiu entender”, disse a tradutora Thaís Campos.
Também com a ajuda de um dos intérpretes, Moab Souza, presidente da Associação de Surdos Mudos disse que a iniciativa deve servir de exemplo e precisa ser ampliada para outros locais. “Em hospital, aqui, em banco, associação”, disse. A ideia de fazer o júri com tradução para deficientes auditivos foi da juíza Márcia Melgaço. “Desde 2002 tem uma lei obrigando todas as instituições dos poderes a incluir socialmente o surdo, e isso não tem sido feito. São 14 milhões de surdos no Brasil, e algo tem que ser feito. E por que não começar pelo poder judiciário de Itabuna?”. Para que a iniciativa desse certo, a juíza convocou os intérpretes para uma reunião, para eles entenderem como era o julgamento. Uma das dificuldades foi entender e traduzir termos jurídicos. “Eu nunca tinha interpretado nada jurídico, nada deste tipo. Então a gente precisou estudar bastante, pesquisar muitos sinais, e ainda tem muita coisa para pesquisar”, disse Thaís Campos. O caso, inclusive, levantou a necessidade de se desenvolver novos sinais, para representar termos específicos. “Muitas pessoas agora vão começar a pensar, até os próprios surdos, que precisam criar sinais, palavras em Libras, para esse ambiente”, diz a intérprete Neuma Souza, que também atuu no julgamento. Outro intérprete que trabalho no júri chamou a atenção para a importância do julgamento desta terça. “É um momento realmente importante para a comunidade surda, de um modo geral”, disse Wolney Gomes. A juíza Márcia Melgaço se disse contente com an quantidade pessoas que estiveram no fórum e falou que espara que a iniciativa seja reproduzida em outros lugares. "Espero que isso contagie todo mundo e que vá para outros segmentos, outras varas, outras áreas”, afirmou.