Nossos parabéns a diretora da ENSF, a educadora Maria José pelo título de cidadã brumadense

  • ENSF e Colaboradores
  • 17 Fev 2014
  • 16:03h

A educadora no momento em que foi condecorada com o título de cidadã brumadense solicitado pelo vereador José Ribeiro Neves (Foto: Daniel Simurro / Brumado Urgente)

A cerimônia de entrega do título de cidadão brumadense a 26 homenageados, a qual aconteceu na última sexta-feira (10), teve como um dos pontos altos o discurso impactante e cheio de conteúdo histórico feito pela diretora da Escola Nossa Senhora de Fátima (ENSF), a educadora Maria José Ramalho de Meirelles, que encantou a todos os presentes, pela riqueza cultural, pelo seu entusiasmo, inteligência, mas também pelos componentes emocionais, já que ela trouxe um relato fantástico sobre o amor incondicional a Brumado, inclusive, retratando isso em uma canção, que ela mesma fez questão de entoar.  Dona de um conhecimento como poucas, Tia Zé como é conhecida é uma referência viva do poder transformador da Educação, com um história construída com muito trabalho, afinco e dedicação, ao longo das últimas 4 décadas, Maria José de Meirelles é um grande exemplo, e nós funcionários e colaboradores da ENSF, prestamos a nossa homenagem e reconhecimento, deixando a disposição da sociedade brumadense o brilhante discurso que foi preferido pela educadora durante a cerimônia que aconteceu na sede da Câmara Municipal de Brumado. (Clique)

Boa noite a todos. Quero cumprimentar a mesa na pessoa de meu esposo Dr. Sidney Joaquim de Meirelles e agradecer a todos os vereadores na pessoa de José Ribeiro por esse título.

 

Há tempos atrás eu só acreditava nas coisas que tivessem lógicas. Vou explicar o significado disso. É QUE ME CONSIDERAVA UMA PESSOA de pés no chão. Ou  seja, aquela que só acredita no que vê. E pronto! Embora os baianos principalmente nascidos em Salvador tenham muitas superstições, eu nunca as tive. Pra completar  esse jeito de ser casei-me com um promotor, que  vivia a me falar: Zezé confie desconfiando ...quer dizer , investigue tudo muito bem...Assim vim morar em Brumado. Soteropolitana de nascença e coração, Família grande, pai, mãe, nove irmãos, muitos tios e parentes, amigos e vizinhos, nunca tinha passado pela minha cabeça que um dia sairia de Salvador.

 

Em 1966 Sidney foi nomeado promotor  para Brumado, Vim com o propósito que passaríamos dois anos. Assim cheguei e um tanto esquiva, me isolei; não queria conhecer nada nem ninguém. Embora meu marido fosse meu primo, me desse todo carinho e apoio, a saudade da família e do mar me faziam sofrer. Completaram os dois anos  combinados e eu cobrei: _Sidney você me prometeu que eram somente dois anos, eu quero ir me embora. E Ele solícito concordou: vamos Zezé, vamos  a Salvador, vou tentar minha promoção. Procuramos um tio meu, que tinha muito prestígio e eu lhe falei: Meu Tio, eu quero vir-me embora. E Ele olhou profundamente no fundo de meus olhos e muito sério respondeu: Olhe aqui, menina, lugar de mulher ficar é onde o marido está bem! Volte pra sua terra. Fiquei paralisada. Sem perguntas, sem respostas, lagrimas e soluços  brotaram de dentro de meu ser. E agora? Nada a fazer, voltei muito triste e resolvi encher meu tempo. Fiz concurso para o estado e comecei a dar aulas na Escola Getúlio Vargas, à noite; Meu primeiro dia de aula foi inesquecível! Tinha um jovem muito inquieto e eu fui reclamar com ele, e outro rapaz falou professora não mexa com ele não que ele é Canguçu!  Cheguei em casa perguntei logo a Sidney  o significado daquilo e ele me falou sobre a história de Brumado , pois já tinha morado aqui quando solteiro. Falou-me sobre A saga dos Castros, Mouras e Canguçus no casarão do Brejo. Conseguiu o livro de Licurgo, Uma comunidade Rural nos anos de 1800 e Poeira no Ar de Afrânio Peixoto.

 

Fui ler e assim fiquei conhecendo um pouco  da história de lutas, conquistas e desbravamento  desse povo, que já começou valorizando a cultura  e a organização , como informam as correspondências dos Senhores do Brejo .Me apaixonei pela história de Brumado.   Nesse mesmo ano meu filho brumadense, Tony, nasceu, em casa, pois não tinha hospital, Dr. Zezito foi quem fez o parto, assim eu fui criando vínculo com a cidade. Conhecendo pessoas que me marcaram com seus ensinamentos, com seu acolhimento, seus conselhos, suas histórias. Monsenhor Fagundes foi o primeiro a me visitar. Ele sabia muito sobre Brumado. Ficamos amigos... Ele me deu um conselho que nunca esqueci: Olhe, minha filha , você pode lutar por tudo que quiser, planeje, organize, mas, se na hora agá, algo não der certo, simplesmente entregue nas mãos de DEUS e esqueça. Isso tem me ajudado até hoje!

 

D. Nice Públio, delegada escolar, que instituiu o curso noturno a meu pedido, pois eu não queria lecionar de dia pra não deixar meus filhos em casa,     D. Esther Trindade, figura forte, artista e política que invadiu minha casa para cuidar do umbigo de Tony, Tiãozito, jovem revolucionário e culto de quem eu tinha medo, D. Regina, minha vizinha, mãe de Sônia de Juraci que me dava segurança, Seu Hermes, um dos primeiros professores de Brumado  que também era escrivão, meu vizinho e que Regininha, minha filha  o adotou como vovô Hermes, pai de Tio Santinho , como diz Rege .d. té esposa de seu Juca que adorava conversar com Regininha , minha filha de dois anos, todo dia sentadinha na porta da casa, Seu Armindo Azevedo Prefeito que  inaugurou o  primeiro fórum  de Brumado, Seu Agnelo Azevedo que nos acolheu com tanto carinho , Seu João Sobrinho com toda sua riqueza e simplicidade, D. Belanizia mãe de Edmundo, Mulher empreendedora que contribuiu para o crescimento da cidade, D. Mírian Azevedo grande educadora Seu Zuzu, realizador, que saudade  do cinema Seu Zuzu!  Magna, a Juíza  e Santos seu esposo, figuras incríveis! Ele, até hoje trabalhador, Seu Adalberto Prates dono da fábrica de colchões de mola, hoje escritor, Seu Djalma Torres e D. Aninha, donos da LOJA santa RITA e de uma prole numerosa que eles souberam educar de verdade! ,Seu Oflávio Torres dono do armarinho Nossa Senhora do Rosário  e segundo Antônio torres seu filho , dono da maior prole  de Brumado, se eu não me engano 30 a 40 filhos. Grande figura!  Seu Tidinho e sua esposa  D. Nicinha, Seu Beninho, dentista prático que tinha força espiritual, Seu Aloisio Castro grande comerciante com histórias incríveis! E muita, muita gente, que eu gostaria de citar, mas a lista é longa demais. O fato é que  fui conhecendo Brumado através de sua gente, e aprendendo a amar cada  vez  mais a cidade, a respeitar seus costumes e suas histórias. Não posso deixar de Citar Tião Lobo, pai de Rui Lobo que me ensinou  a  gostar da Chuva.

 

Assim, fui me integrando, abrindo o coração. Além das aulas noturnas comecei a trabalhar com reforço escolar e daí, abri com a ajuda de meu marido a Escola Nossa Senhora de Fátima, num bairro que era conhecido como o campo do avião, pois ali funcionou o primeiro aeroporto de Brumado, fundado por Monsenhor Fagundes, que conseguiu uma aeronave  que fazia a linha Brumado Salvador, enviou um cidadão para receber treinamento de piloto.  A escola que a principio seria uma escolinha, foi ali instalada e D. Nicinha de Seu Tidinho me falou: Maria José você está doida? Construir uma escola dentro do mato?  A ESCOLINHA tinha três salas de aula, foi crescendo e quando estava com 13 anos saiu a promoção de Sidney para Salvador, agora era definitivo, pois ele já havia recusado várias vezes. O jeito era ir. Não nego que embora já tivesse me adaptado à vida em Brumado ainda batia uma maldadezinha, de Salvador, principalmente  da família e do mar. Assim arrumei tudo, anunciei a Escola à venda e fui.  Em Salvador montei uma escola com minha cunhada, a escola encheu de aluno, SIDNEY construiu  Uma casa linda, meus pais e irmãos vibraram de alegria e eu...ha!...EU...  Ficava pra cima e pra baixo. Vinha todo mês, depois fiquei vindo de 15 em 15 dias, quando penso que não era toda semana! Nesse interim fiz até uma música que dizia assim:

Não sei se vou, não sei se fico, se eu fico aqui ou se eu fico lá,

Se estou lá tenho que vir se estou aqui, eu tenho que voltar...

          OH! Minha Brumada terra do minério, vivendo aqui eu me sente feliz...

.        Mas em Salvador eu tenho a minha gente, você bem sabe foi lá que eu nasci.

          Não  sei se vou...

Olhando mato verde ou sequinho sinto a pureza do ar do sertão

Em salvador eu tenho as minhas praias Barra , Pituba ou Itapoã

Não sei se vou ... não sei se fico...

Já tenho um filho que é brumadense e eu também sou pelo coração

Mas lá eu rezo a Senhor do Bonfim

Aqui eu oro a São Sebastião

Não Sei se vou....

De cá pra lá de lá pra cá ficar

Em Bom Jesus ainda tenho fé

De misturar as terras brumadenses

Com areia branca do Abaeté

Não sei se vou não sei se fico...

O fato é que:

            NÃO CONSEGUIA MAIS ME ACOSTUMAR EM SALVADOR!

         QUE FIZ EU?– Vendi a Escola em Salvador e atendendo um chamado forte do coração vim-me embora. Comecei vindo todo mês, Depois de 15 em 15, depois toda semana e quando pensei que não estava de novo em Brumado!

           MOMENTO PRA REFLEXÃO:

          Que significado tem isso- Não TEM LÓGICA! Eu pensava!  Como é que eu chorei tanto pra não ficar e agora parece que algo mais forte me impulsiona a ficar?

          Sidney ficou em Salvador com dois meninos e eu aqui com dois; ele vinha de 15 em 15, eu ia, e assim foi passando o tempo até que ele se aposentou e veio definitivamente.

         Não tenho dúvida nenhuma que uma força maior me trouxe de volta pra Brumado. Aqui criei meus filhos, aqui construí minhas amizades, aqui desenvolvo meus projetos de vida, aqui viverei o resto de minha vida até quando Deus quiser pois hoje estou recebendo um titulo do qual já me sinto dona há muitos anos , por isso  quero agradecer a esse ato de justiça que a Câmara de Vereadores teve pra comigo, institucionalizando minha cidadania como verdadeira brumadense. Uma brumadense que escolheu sua cidade para viver, Que vive feliz em sua terra, trabalha pelo seu crescimento, sofre com suas carências, participa de seu processo cultural, político e social na busca de um maior  desenvolvimento, acredita, que tem jeito para suas mazelas, sim, se como brumadenses de coração nos unirmos não só para criticar, mas para  agir, participar, unir forças  e assim podermos tornar Brumado a cidade da alegria, da paz do amor, da cultura, da justiça, da cidadania uma cidade que tem como padroeiro o Bom Jesus e com certeza será para sempre uma cidade de LUZ

Muito Obrigada!