Mesmo sem ler e saber a importância do projeto, deputados baianos dão título a Jorge Amado

  • por Sandro Freitas / Bahia Notícias
  • 29 Jan 2014
  • 11:30h

Foto: Sandro Freitas / Bahia Notícias

O ato classificado como um dos mais negativos e impopulares da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) no passado recente, ocorrido na sessão desta terça-feira (28), revelou um procedimento comum e temeroso na Casa, apontado pelos próprios integrantes: deputados aprovam projetos sem ler o conteúdo das matérias. Após rejeitar a concessão do título de Cidadão Benemérito da Liberdade e Justiça Social João Mangabeira a um dos maiores ícones da Bahia, o escritor baiano Jorge Amado, a Casa voltou atrás e concedeu a honraria oferecida pelo deputado Álvaro Gomes (PCdoB). O presidente Marcelo Nilo (PDT) encontrou uma forma de reparar a imagem da AL-BA, ao apontar um “erro técnico” na primeira votação da matéria, quando a pauta foi derrubada com um voto a menos do que o necessário (31 favoráveis). 

Segundo ele, os líderes Elmar Nascimento (DEM) e Zé Neto (PT) não tinham assinado o documento de dispensa de formalidade, o que permitiria a nova apreciação. No entanto, o deputado Capitão Tadeu (PSB) acusou Nilo de “mentir” para consertar o erro. “O presidente desta Casa está faltando com a verdade. Não é preciso uma mentira para justificar a falta de argumentos para a Mesa Diretora passar por cima do regimento interno”, bradou o socialista, que garante ter visto a rubrica dos líderes no projeto inicial. A acusação foi logo deixada de lado pela maioria dos deputados, mas outro assunto – a falta de atenção em relação ao que é votado – veio à tona. Vários políticos reconheceram que a aprovação, em uma mesma sessão, de mais de dez honrarias para diversas pessoas e cerca de dez projetos de deputados, além de outros do governo, foi resultado da “falta de critério”. O líder do PT na Assembleia, Rosemberg Pinto, defendeu a concessão do título a Jorge Amado, mas reconheceu que a derrubada inicial do projeto tinha como um dos motivos o fato de que “muitas pessoas nem sabiam o que estavam votando”. Paulo Azi (DEM) considerou a análise de uma enxurrada de textos um erro. “É inadmissível que se passe um ano sem votar projetos de deputados. Estamos votando matérias que sequer temos conhecimento”, pontuou. Já o pepista Mário Negromonte Júnior cobrou “mais atenção” dos colegas em relação ao que é apreciado. “Precisa refletir para não cometer injustiças como essa”, afirmou o parlamentar, ao ser referir a não concessão da honraria a Jorge Amado. Negromonte, preocupado com a imagem da AL-BA, ainda chegou a “pedir que a imprensa não colocasse” o tema em foco na cobertura sobre a sessão desta terça, solicitação não atendida. Pouco antes da segunda votação do título para o escritor, o deputado Marcelino Galo (PT) comparou o Poder Legislativo baiano a uma “casa de estúpidos”. “Jorge não vai perder nada. Quem vai perder é essa Casa. Imagine a repercussão. Vai ficar parecendo uma casa de estúpidos. Gostaria da reparação para que não fique na história como o ano legislativo em que se rejeitou o título para essa personalidade”, clamou o parlamentar. Durante a segunda análise, que terminou com 45 votos em favor do título e três contrários, Cacá Leão (PP) demonstrou sua preocupação. “Pelo amor de Deus, não vamos errar de novo”, pediu aos colegas.  Na sessão desta terça, os deputados aprovaram títulos de cidadão baiano para nomes como o presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, desembargador Eserval Rocha; o arcebispo primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger; o empresário do ramo de frangos em Vitória da Conquista, Nailton de Araújo Santos; e o ministro do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio Noronha. Ainda chamou a atenção os pedidos de títulos de cidadão baiano da deputada Ivana Bastos (PSD), para dois diretores da empresa Renova Energia: Carlos Matias Neto e Renato do Amaral Figueiredo. Elmar Nascimento agraciou os mineiros com crachás de baiano para o deputado federal Fábio Ramalho (PV-MG) e o procurador-geral de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Nilson Soares Castelo. “Está se desmoralizando e dando títulos sem critério”, sacramentou Adolfo Menezes (PSD).


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